2 de jul. de 2009

Um adendo ao título...

Madeira de gaveta! Soa desengonçado, rude, sem encanto... Definitivamente: "madeira de gaveta", "madeira de gaveta"... Quis encontrar algo que pudesse ser dito de um só fôlego e consegui, mas, não gosto das palavras secas. Agora que já está, deixa ficar. Afinal, expressão nenhuma é de todo mal nascida e eu acredito que ainda posso salvá-la.
Tudo o que realmente importa entre os meus escritos, viveu e vive assim: mal abrigado. São coleções de cadernos camuflados onde nada foi passado à tinta (predilecção boba pelos contornos claros do grafite!), cartas em que os anos fizerem infinitas dobras novas e anos que se passaram dobrando as pessoas ao meio, para que assim eu pudesse guardá-las... Vida cheirando a naftalina esvaecida, o perfume na madeira das gavetas. Seria dolorido, indelicado e quase doentio da minha parte convidá-los, de fato, a visitar as minhas gavetas... Não farei isso, não, eu não farei assim... Só deixarei o título. Servirá ao menos para precavê-los de que a melancolia machuca... Mas, peço que não temam, se por um lado eu amo às minhas recordações e faço delas universos inteiros, por outro lado, eu aprendi a ir além...
Confesso, minhas palavras sempre serão para mim como envelopes lacrados e com destinatário certo. Minha escrita um pouco egoísta me intimidava. Hoje, há algum tempo descobri que o egoísmo dela, ainda que nunca deixe se ser egoísmo, consegue ser gentil e toca às pessoas, mesmo aquelas para as quais jamais escreveu. É razão suficiente para deixar a gaveta! Aos amigos amados, perdão por expor algo que será eternamente único e insubstituível. Mais uma vez, perdão, é só a tentativa de um chamado: partilhem comigo a descoberta do ato de escrever... Partilhem comigo, alguém que desde menina escreve sem saber o que agora salta aos olhos. Escrever expande o que lhe é mais particular sem torná-lo público... Ato cuidadoso que nos faz conhecidos, somente, daqueles que já nos conheciam! Demorei, porém, posso entender. Só é capaz de alcançar seus escritos, alguém que lhe descobriu a alma, ou mesmo alguém que lhe fez o favor de reciclá-la. Alguém que lhe descobriu a alma sem querer, procurando não a sua, mas a própria. Minha alma, minha história e minhas linhas ainda se misturam... Nesse sentido não sei se quero fazer como fez Drummond, pedindo aos críticos que só se concentrassem em sua obra ,pois, considerava sua vida monótona. Ele era Drummond, tinha o direito! Eu, sou apenas alguém que escreve ... Almas semehantes, corações semelhantes, vidas semelhantes! Sejam bem vindos!

Carinho e atenção,
Fernanda Elena