30 de ago. de 2010

"Querida"

"Querida", "Querida"... É mesmo um adjetivo obstinado, desses que quando vem fica! Sou bem quista por alguns, admirada por outros poucos, mas, ser querida é diferente! Adquiri o mau hábito de afastar, repelir os elogios... É só corar o rosto e as pessoas não conseguem ser firmes ao falar... Acontece com freqüência, contudo, não neste caso. Ouvir "querida" com todas as letras, dito de forma leal, liqüefaz por dentro! Com o peito liqüefeito é impossível defender-se...
Já houve quem me chamasse querida assim, de supetão... Já o fizeram à socapa, somente sugerindo e não sei se suspeitaram o que senti. Outros vieram, porém, que sabiam! Sim, conheciam meu sentir e puderam, por isso, ser muito serenos... A eles eu me rendi e em troca guardaram meu segredo. Diga-se de passagem, o último "querida" que recebi foi inesperado e belo. De uma extrema lealdade! Veio de um amigo que diz-se ateu, entretanto, naquele dia concedeu-me orar por ele. Se não por fé, por fidelidade a mim, por brandura de coração...
Havia a música, as pessoas, a piscina, bebidas... O mundo e seus percalços! Sem muito espaço, eu esperei, nos esperamos. Por fim, tivemos de converter um abraço na oração concordada. ( o quanto eu quis que Deus o tocasse ao encostar em seus ombros!) E ele agradeceu, quase que inconscientemente... Chamou-me "querida" e selou-o com um beijo em minha testa, tão comovido, tão honesto! Podia ter escolhido uma das faces, ou ter optado pelas mãos... Mas, não, soube ser perfeito! O rosto, ou mesmo as mãos, pode-se beijar por mera formalidade. (até os lábios podem, se quiserem, ser formais...) A testa, nunca será formal, é sempre preciso alcançá-la, é necessário querer! Vencida duplamente, pela palavra e pelo ato... Quão querida pude ser!

24 de ago. de 2010

Mãos dadas.

A minha frente há um casal, nada os denuncia, a não ser as mãos. São simplesmente mãos dadas, sobrepostas sem pressão, quase ao acaso. Elas se doam, largam-se e alargam-se uma na outra. É tanta a naturalidade que o gesto lhes parece próprio, como se tivessem só esta finalidade. De fato, somente mãos dão-se fácil assim!
Observo as minhas... Estão sós e acrecesce-se que são particularmente finas e frias... Carregá-las nas ruas de inverno, sem bolsos, nem luvas é mesmo muito imprudente, porém, é proposital. Olhar de perto as minhas palmas, assim, rajadas de um vermelho vivo... Seguidas das pontas dos dedos, onde a pele é branca e o sangue ralo... Tudo isso é acolhedor! Sensação aparentemente antagônica, que aumenta a aflição, todavia, que também aquece. Diante da debilidade das mãos meu corpo clama, então reajo. Vou esquentando aos poucos e enquanto esquento entendo: é certo que eu sei... Não preciso temer. Minhas mãos são comuns, são dadas como as de todos. Só o que as difere é que, raramente puderam ser quatro feito acontece com o casal que lá está. Aliás, parece-me que eles já sabem por si mesmos o quanto suas mãos se desejam e eu espero realmente que assim seja, pois, repito: só as mãos dão-se fácil assim. Se elas não se juntam inteiras, desconfie... Desconfie dos lábios, dos braços e de tudo o mais que se juntar! Quem não dá as mãos não é sincero, ainda não aprendeu. Somente as mãos dadas nos ensinam a dar!

21 de ago. de 2010

Seu riso socorria... Sorria!

É tudo tão mesclado em mim agora... Versejar sobre ti o faz vivo! Muito mais vivo do que planejei... Vive em minhas vísceras. No coração que bate largo, espaçoso e atrevido.
Sei que o tempo amadurece, nem que seja um pouquinho... Por isso, riríamos se pudéssemos nos ver... Quão menina era eu, lembra-se? Sobressaltada, intensa, inocente e crédula... Esperava sempre pelo socorro do seu riso e ele soccoria! Por favor, não caçoe de mim, eu era criança. Mas, certo dia arranquei os erres do meu sotaque e me arrependi, pois, eu gostava da gozação do seu riso grave nos meus ouvidos... Eu não tinha suas mãos, não tinha braços, era longe onde estava! Então, só o som pesado é que me protegia. Você devia ter rido mais, para mim e por mim...
É, eu ainda o amo e peço-te: deixa ser assim, ao menos no papel. Bem sei que depois do afeto confesso qualquer texto fica besta... Sossegue. É só saudade do que fomos, do que vivemos, das cartas bestas que escrevemos! (quanto a elas, sossegue também, um tal Pessoa, por sinal meu xará Fernando... Ele já nos absolveu dizendo bem antes de mim que as cartas de amor são ridículas, mas que ainda mais ridículo é quem nunca as escreveu!)

16 de ago. de 2010

Alma de violino.

Gosto de dialogar com as palavras, sobretudo, gosto do som que elas têm! É mesmo possível afinar as frases, quase como se elas fossem instrumento musical. Intimamente, sempre quis tocar... Jamais aprendi, entretanto, minha habilidade recolhida permanece próxima, não se foi. Sinto os instrumentistas sempre muito perto de mim, quando eles fecham os olhos e tocam, aí então nos tornamos iguais! De olhos fechados o músico simplesmente ouve e frui, faz o que eu também faço. O som produzido já não parece obra de suas mãos, não é obra sua, assim como nunca foi minha. É mágica de sentir e só! Por isso, eu quero escritos que soem, reverberando no peito e brilhando nos olhos de quem os lê ou ouve, assim, por um breve instante, posso sentir-me tocando, fazendo música....Que valham-me agora os violinistas! Recordem as cordas, o violino e seu som... Madeira escura, bem polida, instrumento leve de nascença e que parece ser ainda muito mais leve conforme vai sendo conduzido... O som que de ínicio pode parecer orgulhoso, exibido, carregado de uma auto-suficiência absurda é o mesmo que instantemente surpreende e vem delicado e frágil tocar seu ouvinte. Valha-me afinal, minha própria vida, ajudando-me a entender: que visgo é esse unindo versos e vibratos? O que há me fazendo amar no violino o violinista?Será possivel que a alma de um enfiou-se no outro? (bendito instrumento que tem “alma” nomeando uma de suas partes!) Será a extensão estampada no desenho de ambos? Onde um começa o outro finda: pegam-se no peito, no queixo, nas espáduas... Soam juntos! Suam juntos! São sinônimos! Eu disse som orgulhoso, pois, estenda o orgulho ao solista. Disse delicado e frágil, eis a sua essência refletida! E o que sobra sou eu... Sabendo-me sua, ou melhor, sabendo-me deles,eu sou do violino, sou do violinista...Não toco, escrevo! Vibratos em versos e o visgo nos vence. A vida ao buscar a explicação confunde-se toda e sem explicações, basta o que nos é comum: basta-me o som, basta-me o sentimento , basta-me ser.



2 de ago. de 2010

Timidez: minha mãe.

Admiro aos que escrevem alicerçados por uma imaginação farta e prodigiosa! Comigo não é assim, escrevo metida em mim mesma. Só o que eu vivo me toca... Admito que a ânsia de escrever sempre esteve presente e como toda a criança eu criei universos, porém, o ato de imaginar nunca me nutriu. Bonecas, pelúcia, pintura e cor... Não, nada disso! Eu quis as palavras, desde logo, amei-as. Hoje, talvez eu lhes explique o motivo. Queria pessoas reais, sentimentos humanos... Com braços! Desejei colo, desejei carícias, aconchego e afago. Sei que até este ponto não cabe a escrita e sempre será assim: onde sensações superabundam, as palavras nascidas calam e quanto aos textos, estes nem sequer nascem. Contudo, junto aos meus desejos, cresceu-me também a timidez e ela é quem mudou quase tudo.
Quase, pois, os desejos não se foram... Latentes! E para desejos latentes, recorramos ao lactante... Bebê que espera o leite, mas não tem forças de arrancá-lo, precisa da mãe... Acho mesmo que a timidez poderia servir-me de mãe, talvez, até o tenha sido, porém, foi mãe algoz, que retraiu o seio quando eu precisava dele! Eu queria sorrir... A timidez tolhia... Queria abrir-me... A timidez trancava. Queria as pessoas que já eram da minha alma por dom e direito! Se quiserem mesmo saber, caso alma e corpo se abrissem no mesmo ritmo, certamente seria preciso lutar contra a promiscuidade... Com o perdão da palavra, minha alma é mesmo promíscua e se ela decidir qualquer pessoa a tocará. Qualquer pessoa a toca, de verdade! Só que, tocar a alma, emocionar... Nem sempre isso é fazer o bem. Sim, eu deveria sabê-lo e sei. Todavia, não se esqueçam de que sou promíscua do lado de dentro e que, além disso, há em mim uma inocência abobalhada e renovável. Entrego-me sempre, acreditando no bem que me possam proporcionar.
Andando ainda à sombra de minha metáfora, agradeço a timidez, minha mãe! Se não fosse por ela, muitas vezes teria sido magoada e ferida. Como já reconheci, foi bastante rigorosa e exagerou por diversas vezes, no entanto, graças a ela é que consigo selecionar! Meu corpo recua a todos. Suas vestes fechadas, seu olhar baixo, seu sorriso relutante, escondendo a duras penas uma alma e um coração sedentos! Então, ninguém me enxerga muito... Há tantos outros, há tanta coisa! E comigo, perde-se tempo, é preciso querer me ver, não basta o cumprimento e nem um apertar de mãos... Aí entra a escrita, rápida, eficiente: “Puxa, você escreve!” Que também pode ser dito: “Puxa, você existe!” Se alguém pára para ler meu simples caderno, se depois de lê-lo sorri, até elogia... Se esse alguém pede para ver um pouco mais e o faz com cuidado, a timidez me liberta... É mamãe, permitindo que eu viaje sozinha!

1 de ago. de 2010

Antes do passado, o ontem!

Sabe? Quem escolhe emoções como combustível, tem sempre imensa dificuldade em retroceder. Emoções são voláteis demais e precisam constantemente de renovo! O que isso quer dizer? Bem, eu sou "tocável", sou dessas pessoas sensíveis que não selecionam... É! Sou "sensível não seletiva", alguém que pisca os olhos e lá está: absorvida outra vez por um quase nada.
Isso posto, pareceu-me que seria mais justo se começasse a contar o passado pelo ontem imediato... Assim ele fica inteiro, com todas as honras que lhe são devidas. Aí está o porquê do ontem, porém, por que ontem eu fui tocada? Com o perdão dos trocadilhos, ontem o que tocou foi o meu passado. Senti voltar o tempo, nos meus passos, nas calçadas, no gramado em que nos sentamos após o almoço... São prédios de tantos anos, é quase certo que não mudariam em apenas seis meses! Fui eu quem me senti distante, por isso, esperei equivocadamente pelas mudanças. Mas, ainda faz parte de mim!
Ainda é meu o ambiente, ainda é meu o amigo... Os mesmos tênis enormes, as mesmas palavras sem conta, o mesmo gigante! Meu gigante predileto! Fez-me andar e sorrir muito... Brincadeiras quase ininterruptas, que deixam-no escapar por entre os próprios dedos. Creio que, realmente o torno menos extrovertido, mais real! Ele não é engraçado, nem exagerado como pensam. Não... Para mim, no máximo, é um "gentleman de brinquedo"... Por mim ele atravessou todas as ruas mais lentamente, foi terno e agiu com seriedade quando percebeu que era preciso: "Fico triste ao enxergar que te faz triste imaginar que eu não irei para o céu"... Acompanhou-me pelas avenidas o dia todo, sem vacilar! Ah! Os olhos claros sorridentes que se escancaram para o mundo e que continuam só para mim, ruborizados de vergonha, de pura timidez... Afinal, como ele mesmo disse, não é tão inofensivo estar comigo!
Mais uma vez precisava ir... Não foi sem o abraço. Ele nunca vai sem abraçar. Deixou-me na biblioteca e eu fiquei. Quase esqueci o fato de que já não bastava seguir em frente para estar em casa... A vida tem dessas coisas, pessoas que vem e vão. Seja como for, espero que o Espírito Santo ainda o toque um dia, que ainda haja chance. Sou humana e amo aos meus amigos humanos, demasiadamente humanos! O desejo de vê-los salvos (e sim menino, lá no céu!) inspira e move. O desejo de abraçá-los, embora mais simples, faz-me igualmente viva e feliz!